o livro

Desestruturada à beira do fogão


A água ferve na chaleira, A chuva parou, acabou a luz.
As andorinhas fazem barulho no forro da sala.
Seriam dez, vinte ou vingaram apenas duas?

A chuva parou e a luz acabou.
Só a água no fogo vai fervendo sem parar.
Quem sabe é assim a vida:
Uma coisa se acabando, outra se reduzindo,
Um barulhinho só, um murmúrio?

A água que ferve vai se acabando.
Se o fogo também se acaba,
Como é que se recomeça?
Com certeza tem um jeito,
Um caminho, uma razão?
Sei lá.

A chuva parou, a luz acabou,
Andorinhas no forro e a chaleira chiando.
O tição vai sumindo, sumindo, sumiu.

Grota do Junco, Fevereiro de 2006